:: ‘Internacional’
Bispos e pastores da Universal em Angola tomam controle de templos e rompem com direção brasileira
Depois de anunciar o rompimento com a direção no Brasil, bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola disseram nesta terça-feira (23) que vão assumir o controle dos templos em vários locais de Angola, conforme apuração da BBC News.
Por meio de nota, a administração de Angola disse que algumas unidades do país foram invadidos “por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto”.
Ainda segundo a nota, a Universal diz que os ex-pastores usaram de violência e cometeram “ataques xenófobos”. Além disso, o relato diz que pastores, esposas dos religiosos e funcionário foram agredidos “com objetivo de tomar de assalto a igreja, com propósitos escusos”.
Com 10 mil templos espalhados por 100 países, a Igreja Universal é comandada pelo bispo Edir Macedo. Somente em Angola, a entidade reúne mais de 500 mil fiéis.
Além de romper com a direção brasileira, os bispos e pastores alegam que o comando no Brasil cometeu crimes como: evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação, abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos.
O episcopado angolano diz ainda que os bispos brasileiros possuem privilégios e, por isso, pedem valorização.
Ainda na nota, o bispo Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da Record, estaria perseguindo, punindo e intimidando bispos e pastores angolanos, com a imposição de vasectomia aos religiosos e abortos a duas esposas.
Versão da Universal
Por meio de nota, a igreja disse que o grupo espalhou “mentiras absurdas, como essa acusação de racismo”, com o objetivo de causar confusão na comunidade angolana.
“Basta frequentar qualquer culto da Universal, em qualquer país do mundo, para comprovar que bispos, pastores e fiéis são de todas as origens e tons de pele, de todas as classes sociais. Em Angola, dos 512 pastores, 419 são angolanos, 24 são moçambicanos, quatro vieram de São Tomé e Príncipe e apenas 65 são brasileiros”, afirma a instituição.
Em relação a obrigatoriedade da vasectomia nos religiosos, a Universal alega ser uma fake news “facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos”.
Ao contrário do que foi dito pelos rebelados, a instituição afirma que estimula “o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal”.
“Esclarecemos que, respeitada a unidade de doutrina da fé que une a Igreja Universal do Reino de Deus em todos os 127 países onde está presente, nos cinco continentes, a Universal de cada nação dispõe de total autonomia administrativa para encaminhar e resolver suas questões locais, sempre observando as leis e as tradições. O que se espera é que as autoridades restabeleçam, com urgência, a ordem legal e possam assegurar que a Universal continue salvando vidas e prestando ajuda humanitária em Angola, como faz há 28 anos”, completa a nota.
BBC
Argentina quer taxar grandes fortunas para ajudar saúde e mais pobres
Governo planeja taxar fortunas declaradas acima de US$ 3 milhões e reverter valor para a área da saúde e para ajudar mais pobres a atravessar a crise econômica agravada pelo coronavírus
Buenos Aires – O governo de esquerda da Argentina, liderado pelo presidente Alberto Fernández, começou a discutir a taxação de maiores impostos para as grandes fortunas do país, para que o dinheiro possa ser revertido para a área da saúde e para ajudar os mais pobres a atravessar a crise econômica, agravada pela pandemia do coronavírus. As informações são da BBC.
O projeto ainda está em fase de discussão e enfrenta resistência de empresários no país, mas é apoiado pelo governo de esquerda eleito no último pleito. O imposto extraordinário seria cobrado apenas para quem tem patrimônio declarado acima de US$ 3 milhões.
Pelo Twitter, Fernández afirmou que o imposto sobre grandes fortunas será “uma ferramenta útil para enfrentar a luta contra o coronavírus”. “Somos 45 milhões de pessoas na Argentina e 12 mil pessoas concentram muita riqueza. É para essas pessoas que pediremos esse apoio excepcional para a situação difícil gerada pela pandemia. E será cobrado só uma vez”, disse ele, à emissora de televisão C5N, de Buenos Aires.
Fonte: O DIA
OMS: transmissão de covid-19 a partir de assintomáticos é “muito rara”
A infectologista e chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, afirmou hoje (8) durante a conferência de imprensa diária sobre o novo coronavírus que a propagação de covid-19 a partir de pacientes assintomáticos é “muito rara.” Segundo a médica, os dados levantados até agora mostram que pessoas que não apresentam os sintomas da doença possuem pouco potencial infectológico para contaminar indivíduos saudáveis. De acordo com a especialista, deve haver esforços dos governos para identificar e isolar pessoas que apresentam sintomas. “Nós sabemos que existem pessoas que podem ser genuinamente assintomáticas e ter o PCR (teste realizado para detectar a presença do vírus no organismo) positivo. Esses indivíduos precisam ser analisados cuidadosamente para entender a transmissão. Há países que estão fazendo uma análise detalhada desses indivíduos, e eles não estão achando transmissão secundária. É muito rara,”, afirmou a médica ao ser questionada por jornalistas. Ainda segundo Kerkhove, é necessário traçar todos os contatos que pessoas que desenvolveram a doença tiveram com outros indivíduos. A infectologista afirmou ainda que é necessário realizar mais estudos para chegar a uma “resposta verdadeira” sobre todas as formas de transmissão do novo coronavírus.
Nova Zelândia se declara livre do coronavírus
Após último paciente receber alta médica, primeira-ministra Jacinda Ardern elogia atitude dos neozelandeses que aderiram ao “lockdown” e contribuíram para eliminar a covid-19 em todo o país.
A Nova Zelândia removeu todas as medidas restritivas impostas no país após a última paciente com covid-19 receber alta, informou nesta segunda-feira (08/06) a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern.
Apesar de manter rigidez nos controles de fronteira, medidas como distanciamento social e limites de reuniões públicas não são mais necessárias. “Estamos confiantes de que eliminamos, por ora, as transmissões do vírus”, disse a primeira-ministra em pronunciamento transmitido pela televisão.
Ardern elogiou a atitude dos cidadãos, que, segundo afirmou, “se uniram de maneiras sem precedentes” para combater o coronavírus.
O país do Pacífico Sul, com 5 milhões de habitantes, teve 1.154 casos confirmados da doença e 22 mortes. Já transcorreram 17 dias sem novos registros de pessoas infectadas, com a ocorrência de apenas um caso ativo há mais de uma semana. As autoridades realizaram em torno de 300 mil testes em todo o país.
As informações sobre a última paciente não foram divulgadas para preservar sua privacidade, mas relatos dão conta de que seria uma mulher com idade em torno dos 50 anos que teria ligação com um surto ocorrido em uma casa de repouso em Auckland.
Ardern disse que os sacrifícios dos neozelandeses, que lidaram com semanas de um estrito lockdown imposto em todo o país e que contribuiu para diminuir a taxa de transmissão, foram recompensados com o fim da epidemia.
A decisão do governo de reduzir o alerta para o nível 1, o mais baixo dos quatro níveis do sistema de emergência, permite a reabertura de casas noturnas sem a necessidade de limites ou distanciamento, e também dos teatros. A primeira-ministra avalia que, de modo geral, as medidas devem contribuir para a economia do país.
“Temos uma vantagem na recuperação econômica, uma vez que no nível 1 nos tornamos uma das economias mais abertas, se não a mais aberta, em todo o mundo.” Ardern disse que modelos estatísticos demonstram que, no nível 1, a economia iria operar em um patamar apenas 3,8% abaixo do normal, se comparados aos 37% de queda calculados no lockdown imposto no nível 4.
A partir de agora, os eventos esportivos poderão ser retomados com a presença de público. A associação neozelandesa de rúgbi disse que o torneio Super Rugby Aotearoa neste fim de semana poderá ser o primeiro evento esportivo no mundo com arquibancadas lotadas desde que países impuseram medidas para conter o avanço da pandemia.
RC/afp/ap
Onda de protesto pela morte de George Floyd desafia pandemia e se espalha pelo mundo
Com a frase “Não consigo respirar” como lema, pronunciada por George Floyd enquanto era morto nas mãos de um policial nos Estados Unidos, milhares de pessoas em todo mundo começaram a desafiar a pandemia do novo coronavírus, neste sábado (6), para se manifestar contra as desigualdades sociais e a brutalidade policial.
De Sydney a Londres, passando por Paris e Montreal, estão previstas inúmeras manifestações neste fim de semana para homenagear esse afroamericano asfixiado até a morte por um policial branco, em 25 de maio, em Minneapolis.
Sua morte provocou um movimento histórico de protesto que atravessou as fronteiras dos Estados Unidos e reacendeu o desejo de mudança.
Na Austrália, o primeiro país a protestar fora dos EUA, milhares de pessoas marcharam no sábado, levando faixas com a frase “Não consigo respirar”. A frase é uma referência às últimas palavras de Floyd, enquanto era sufocado por quase nove minutos pelo joelho de um policial durante sua detenção.
Para os organizadores da manifestação na Austrália, o caso encontra eco em seu país. Segundo eles, o objetivo é denunciar o alto índice de detenção entre os aborígines, bem como os membros dessa comunidade mortos quando estavam sob custódia policial. Foram mais de 400 nos últimos 30 anos.
Em Sydney, a manifestação foi autorizada alguns minutos antes de começar, graças a uma decisão judicial que anulou uma proibição anterior.
“O fato de tentarem evitar a manifestação leva as pessoas a quererem fazer ainda mais”, disse Jumikah Donovan, um dos manifestantes.
Muitos usavam máscaras de proteção e tentavam respeitar o melhor possível a distância de segurança, duas medidas preventivas no contexto da pandemia do novo coronavírus.
“Não participem”
No Reino Unido, está marcada uma manifestação para este sábado, na frente do Parlamento, em Londres, e no domingo, diante da embaixada dos EUA. O governo pediu aos britânicos para não irem às ruas.
“Entendo por que as pessoas estão profundamente afetadas, mas ainda estamos enfrentando uma crise de saúde, e o coronavírus continua sendo uma ameaça real”, alegou o ministro da Saúde, Matt Hancock, na sexta-feira.
“Portanto, para a segurança de seus parentes, não participem de grandes multidões, como os protestos de mais de seis pessoas”, acrescentou.
Na capital britânica, vários atos foram organizados ao longo da semana, às vezes marcadas por incidentes com a polícia. Esses protestos trouxeram de volta a raiva dos negros contra o “racismo camuflado” e o “abuso” da polícia em seu país – nas palavras de alguns manifestantes.
Na França, voltaram para o primeiro plano as denúncias de violência policial nos últimos anos, ecoando a indignação global com a morte de Floyd.
Manifestações contra a violência policial foram convocadas para este sábado, em Paris, para “ampliar o movimento de solidariedade internacional contra a impunidade na aplicação da lei”.
Foram desautorizadas pelas autoridades locais, em função da pandemia.
De acordo com nota divulgada pela prefeitura de Paris, essas convocações “foram lançadas nas redes sociais (…) sem qualquer declaração prévia à chefia de polícia”. O comunicado lembra que o atual estado de emergência na França proíbe reuniões de mais de dez pessoas nos espaços públicos.
Na última terça, porém, um protesto proibido na capital francesa reuniu pelo menos 20.000 pessoas.
A multidão foi convocada pelo comitê para apoiar a família de Adama Traoré, um jovem negro morto em 2016, na periferia de Paris, após ser detido pela polícia.
Fonte: YAHOO
Asteroide com quase cinco vezes o tamanho do Morumbi passou pela Terra
Um asteroide passou pela Terra por volta das 0h20 deste sábado. O 2002 NN4, como foi nomeado, tinha de cerca de 568 metros de diâmetro, o equivalente a quase cinco vezes a área total do estádio do Morumbi.
Apesar do tamanho, não havia indícios de que o 2002 NN4 pudesse colidir com o planeta, segundo a Nasa, agência espacial americana.
O asteroide passou a uma distância de 5 milhões de km da Terra, o equivalente a 13 vezes a distância entre o planeta e a Lua, que está a aproximadamente 384,4 mil km de distância.
Ele deve passar pelo planeta outras 30 vezes nas próximas décadas. No entanto, não se aproximará tanto quanto neste sábado antes de 2070.
Segundo a agência espacial americana, é comum que pequenos asteroides passem pelo planeta. Esses objetos são classificados como NEO (Objetos Próximos à Terra).
Os NEO são asteroides ou cometas que orbitam o sol. No geral, esses objetos costuma ser pequenos e não apresentam risco para o planeta. Apesar disso, o 2002 NN4 chegou a ser classificado como “potencialmente perigoso” por causa do seu tamanho.
A agência espacial, no entanto, descartou na sexta (5) que houvesse risco de colisão.
Outros quatro asteroides, muito menores que o 2002 NN4, também passaram pela Terra neste sábado.
Casa Branca diz que Brasil terá 5.000 mortes diárias por coronavírus em agosto
Governo Trump prevê até 5 mil mortes/dia pelo coronavírus no Brasil no início agosto. Previsão trágica, devido à maneira como o governo brasileiro tem conduzido o combate à epidemia, explica o afastamento cada vez maior de Trump em relação a Bolsonaro
Estudo do governo dos EUA sobre a evolução dos casos de coronavírus no mundo aponta um cenário trágico para o país, em função das políticas do governo Bolsonaro: o sistema de monitoramento prevê uma piora no quadro brasileiro e agora projeta mais de 165 mil mortes no país até agosto, com 5 mil mortes diárias no início daquele mês. A informação é da jornalista Marina Dias, da Folha de S.Paulo.
Nesta semana, o Brasil registrou recorde de mais de 1,4 mil mortes por dia, quase superando a expectativa do instituto para o meio de julho, quando 1,500 mortes eram previstas em 24h.
Os números podem ser a causa do distanciamento cada vez maior de Donald Trump em relação a Bolsonaro. O presidente dos EUA tem criticado o combate à epidemia no Brasil. “Se você olha para o Brasil, eles estão num momento bem difícil. (…) Se tivéssemos agido assim, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais”, disse Trump nessa sexta-feira.
Fonte: Folha / 247
“Centenas” de novos coronavírus são achados em morcegos da China
Análise de milhares de animais revela uma “enorme diversidade” desses vírus na natureza
Em meio à pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, um hipotético irmão SARS-CoV-3 já poderia estar escondido na natureza à espera de um próximo ataque à humanidade. Uma análise genética de centenas de novos coronavírus achados em morcegos da China revela que alguns deles têm “um alto potencial de transmissão entre espécies” e aponta para a “origem provável” do próprio SARS-CoV-2 em uma espécie regional de morcegos-de-ferradura.
“Há uma enorme diversidade natural destes coronavírus”, observa o ecólogo boliviano Carlos Zambrana, da EcoHealth Alliance, uma organização internacional com sede em Nova York dedicada a investigar as doenças emergentes que surgem da fauna selvagem e ameaçam a humanidade. Sua equipe, em colaboração com o Instituto de Virologia de Wuhan, analisou mais de 1.200 sequências genéticas de coronavírus achados em morcegos, sendo 630 delas novas, e confirmou que “o sudoeste da China é um centro de diversificação” desses vírus. Lá se dá uma tempestade perfeita: uma grande quantidade de espécies de morcegos — cada uma com seu vírus característicos —, uma alta densidade populacional humana e um constante contato entre pessoas e animais, que inclui caçar e comer morcegos.
“É muito provável que vejamos novas pandemias no futuro”, opina Zambrana. Sua organização está na mira do Governo Trump por colaborar com o Instituto de Virologia de Wuhan, acusado sem nenhuma prova de ter fabricado o SARS-CoV-2 em seus laboratórios. O novo estudo leva a assinatura de Shi Zhengli, uma reputada virologista chinesa — conhecida como Batwoman por seus pioneiros trabalhos com morcegos — que sofreu uma campanha de perseguição após ser apontada como “a mãe do demônio” nas redes sociais chinesas. “É uma lástima que cientistas que estão tratando de salvar nossas vidas estejam recebendo ameaças”, lamenta Zambrana.
O próprio Donald Trump anunciou em 17 de abril na Casa Branca que cortaria o financiamento da EcoHealth Alliance por trabalhar com os virologistas chineses. A organização recebeu mais de três milhões de dólares (15,4 milhões de reais) desde 2014. Em 21 de maio, 77 cientistas norte-americanos ganhadores do Prêmio Nobel escreveram uma carta ao Governo dos EUA para denunciar que a decisão de Trump “priva o país e o mundo de uma ciência de grande prestígio que poderia ajudar a controlar uma das maiores crises sanitárias da história recente e outras que venham a surgir no futuro”.
A organização EcoHealth Alliance participa do Projeto Viroma Global, uma iniciativa lançada em 2016 para tentar se antecipar aos 500.000 vírus desconhecidos que, conforme se calcula, circulam entre outros animais e poderiam ser capazes de saltar para os humanos. A nova análise genética, um rascunho pendente de sua publicação na revista especializada Nature Communications, aponta os morcegos-de-ferradura como principal reservatório de vírus similares ao SARS, outro coronavírus irmão do atual que surgiu em 2002 na China e matou 800 pessoas. Os coronavírus de morcegos também são suspeitos de serem os antecessores do vírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês), um agente patogênico letal identificado pela primeira vez na Arábia Saudita em 2012, que infecta os humanos através dos dromedários.
A equipe científica da EcoHealth Alliance e do Instituto de Virologia de Wuhan colheu amostras de milhares de morcegos de 15 províncias chinesas entre 2010 e 2015. “Quando apanhamos um morcego, quase sempre ele dá negativo para coronavírus. Para encontrar um positivo temos que examinar centenas”, explica Zambrana. Os cientistas não analisaram o genoma completo de cada vírus, de modo que as 630 novas sequências genéticas publicadas agora não correspondem necessariamente a 630 novas espécies de coronavírus, embora o ecólogo boliviano acredite que possivelmente se trate de “centenas” de agentes patogênicos desconhecidos até agora.
Os vírus causadores da SARS, da MERS e da covid-19 pertencem a um grupo específico de coronavírus, denominado betacoronavírus. A nova análise, entretanto, sugere que outro grupo, o dos alfacoronavírus, é o que tem uma maior facilidade para saltar entre espécies. Os autores pedem a implantação urgente de programas de vigilância que procurem novos coronavírus nas populações de morcegos do sul da China, mas também em países vizinhos, como Myanmar, Laos e Vietnã.
“Não se pode culpar os morcegos. Eles são fantásticos para os ecossistemas. Se você gosta de tequila, tem que agradecer aos morcegos, porque são os polinizadores da planta com a qual se faz a tequila”, exemplifica Zambrana, preocupado com a estigmatização desses mamíferos voadores. Em março, as autoridades do Peru tiveram que pedir respeito aos morcegos depois que habitantes de um povoado andino atearam fogo a uma colônia por vinculá-la equivocadamente à pandemia da covid-19.
“Os benefícios que os morcegos oferecem aos ecossistemas são, de longe, muito maiores que os possíveis riscos: polinizam as plantas, controlam as pragas agrícolas e comem toneladas de mosquitos que nos transmitem doenças como a malária, a dengue e o zika”, concorda o zoóhttps://brasil.elpais.com/ciencia/2020-03-27/crescem-as-evidencias-de-que-o-pangolim-foi-o-animal-de-origem-do-coronavirus.htmllogo Javier Juste, da Estação Biológica de Doñana, no sul da Espanha.
Após a epidemia de SARS em 2002 e 2003, Juste e outros cientistas foram em busca de coronavírus em morcegos da Espanha. Encontraram 14 alfacoronavírus e betacoronavírus em mais de meio milhar de animais analisados. “Foram achados muitos coronavírus em morcegos porque se dedicou muito esforço a procurar nestas espécies, mas há grupos inteiros de mamíferos para os quais ninguém olhou”, alerta Juste. “Os morcegos não são o reservatório do vírus desta pandemia. Isso é falso. O vírus SARS-CoV-2 não apareceu nos milhares de morcegos analisados”, destaca.
O coronavírus conhecido mais similar ao causador da covid-19 é o RaTG13, identificado em morcegos-de-ferradura da província chinesa de Yunnan. Os dois vírus compartilham 96% do genoma e se calcula que divergiram de um ancestral comum há mais de 50 anos, segundo o geneticista Rasmus Nielsen, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). A semelhança entre os dois agentes patogênicos é “mais ou menos a de uma pessoa com um porco”, nas palavras de Nielsen.
O virologista Juan Emilio Echevarría, da Associação Espanhola para a Conservação e o Estudo dos Morcegos (SECEMU), também participou da busca por coronavírus na Espanha e concorda com seu colega. “Está havendo uma confusão entre a origem evolutiva do vírus, que segundo a principal hipótese provavelmente está nos morcegos-de-ferradura, com a origem epidemiológica da pandemia, com a fonte de infecção do primeiro caso humano de covid-19, que se desconhece”, opina Echevarría.
“O animal que transmitiu o SARS aos humanos foi a civeta [um pequeno mamífero do Sudeste Asiático] em um mercado da província de Cantão. O reservatório conhecido do vírus da MERS é o dromedário. No caso da covid-19, se desconhece. Não se documentou nenhuma transmissão de um coronavírus de morcego para pessoas”, salienta Echevarría. No seu entender, concentrar-se nos morcegos “tira o foco da busca pela fonte das pandemias em outras espécies de fauna silvestre”. Alguns especialistas, como o virologista alemão Christian Drosten, apontam a possível origem da covid-19 nas fazendas chinesas onde há criação de animais para a obtenção de peles, com milhares de espécimes amontoados que facilitam a evolução dos vírus.
Echevarría recorda que um comitê científico do Eurobats — o acordo europeu para a conservação dos morcegos — recomendou redobrar as precauções nas cavernas para evitar a transmissão do SARS-CoV-2. “A razão é a contrária à que temos na cabeça: o temor é que os humanos possam passar o vírus aos morcegos, não o contrário”, afirma.
ONU pede ‘vacina para o povo’, enquanto Brasil bate recorde de mortos por coronavírus
Na região da Bahia (nordeste), um toque de recolher noturno está em vigor desde quarta-feira em 19 municípios do sul do estado para impedir a propagação. Diante do avanço da pandemia, as Nações Unidas e a Organização de Estados Americanos alertaram para o “grave risco” em que estão os indígenas da Amazônia, lar de 420 povos originários, 60 deles em isolamento voluntário. O Brasil ficou atrás apenas dos Estados Unidos, que nesta quinta-feira reportou 1.021 mortes e soma um total de 108.000 óbitos desde que a pandemia começou, destacando-se com folga como o país mais afetado em termos absolutos no que se refere a número de mortes e casos de contágio.
O México, por sua vez, que na quarta-feira tinha passado de mil mortes pela primeira vez em um dia, registrou nesta quinta 816 óbitos (totalizando 12.545) pela COVID-19 e o máximo de contágios diários pelo segundo dia consecutivo, com 4.442 novos casos confirmados, elevando o total a 105.680.
A situação se agrava neste país exatamente na semana em que o governo estava se preparando para reativar sua vida econômica e social após mais de dois meses de confinamento.
O Peru superou os 5.000 óbitos pelo coronavírus, que já causa estragos nas fileiras da Polícia, no pessoal médico e entre jornalistas. O país, que registrou 137 mortos em 24 horas (5.031 no total), anunciou que importará oxigênio para uso medicinal em pacientes hospitalizados, dada a escassez existente, e o declarará “um ativo estratégico”. – Vacina para o povo -Sem que a crise da saúde esteja encerrada, o mundo inteiro já sofre as consequências econômicas enquanto instituições e governos multiplicam medidas para combater o desastre. A economia da zona do euro entrará em colapso 8,7% este ano, alertou o Banco Central Europeu, anunciando que dobrará seus programas de ajuda, como a compra de dívida, até pelo menos o ano que vem.
Ao mesmo tempo, governos e organizações como o Unicef se reuniram em Londres para arrecadar fundos para a vacinação geral de 300 milhões de crianças, uma das faixas mais afetadas pela pandemia, pelo fechamento de escolas ou pela falta de cuidados de saúde elementares.
O secretário-geral da ONU aproveitou a oportunidade para afirmar que “uma vacina contra a COVID-19 deve ser vista como um bem público global, uma vacina para o povo”.
Uma verdadeira corrida para alcançar o remédio contra o COVID-19 foi desencadeada entre as principais potências mundiais, laboratórios e multinacionais.
Na reunião de Londres, esses atores se comprometeram a reservar US$ 567 milhões para comprar e distribuir a vacina possível, se houver, principalmente para os países em desenvolvimento.
“Quando tomamos uma vacina, queremos desenvolver imunidade coletiva” e, para isso, devemos garantir que ela seja administrada a “mais de 80% da população mundial”, disse à BBC o magnata e filantropo americano Bill Gates.
Enquanto se aguarda um remédio, continuam as discussões sobre medicamentos que já estão no mercado, como a hidroxicloroquina, usada por décadas para outros fins e que alguns médicos prescrevem para aliviar os efeitos do COVID-19.
A hidroxicloroquina foi desqualificada em um grande estudo mundial com dados de dezenas de milhares de pacientes. No entanto, três dos quatro autores do relatório se retrataram nesta quinta-feira na revista que publicou o relatório, a British Lancet, porque reconheceram que não tinham acesso aos dados primários.
– Vislumbres de normalidade -Depois de meses de devastação, os países europeus, por sua vez, estão tentando retornar a uma certa normalidade. Com o turismo na mira, a Áustria reabriu suas fronteiras nesta quinta-feira, exceto com a Itália. A Alemanha encerrará as restrições ao turismo na Europa a partir de 15 de junho.
A cidade espanhola de Sevilha optou pelo recolhimento, com uma missa pelas mais de 27.000 mortes por coronavírus, realizadas na catedral, com o público reduzido devido a medidas de segurança sanitária.
“É um ato solene que expressa um pouco a dor não só de Sevilha, mas da Espanha e do mundo”, disse à AFP José Carlos Carmona, diretor da Orquestra Sinfônica Hispalen e do Coro.
burs-jz/ltl/cc.
Fonte: UOL
Movimento antivacina cresce em meio à pandemia
“Como é que ficam os antivacinas agora?”, perguntava-se, jocosamente, o apresentador e comediante Pablo Motos em seu programa da TV espanhola há algumas semanas. Desde que a pandemia estourou, multiplicaram-se as piadas sobre esse coletivo que desconfia das agulhas. Dava-se como certo que estariam escondidos ou teriam sido obrigados a mudar de opinião, em meio a uma crise sanitária global que só pode ser solucionada com imunização. Mas basta conhecer um pouco do pensamento desse grupo de ativistas irredutíveis para saber que a realidade é muito diferente. Os antivacinas não estão calados, e sim mobilizadíssimos, como aconteceu em todas as crises sanitárias anteriores. O zika, a gripe A e agora o coronavírus são episódios que contêm os fatores que confirmam suas crenças e os ajudam impulsioná-las, por mais paradoxal que pareça. A pandemia atual é a tempestade perfeita onde se juntam todos os elementos de uma batalha para a qual passaram décadas se preparando.
A incerteza alimenta o pensamento paranoico, e esses grupos são especialistas em jogar lenha nessa fogueira. Trabalharam bem o manual da infoxicação na Internet e há meses vêm semeando dúvidas e conspirações. “Minha resposta curta é que os antivacinas vão crescer”, adverte o sociólogo Josep Lobera, “embora eu ache que estamos a tempo de fazer as coisas direito”. Enquanto as piadas sobre os antivacinas se espalhavam no Twitter, os próprios divulgavam histórias inventadas, como uma britânica que havia morrido após se oferecer para testar uma vacina experimental, que tudo tinha sido orquestrado por Bill Gates, que era possível obter uma falsa “imunidade natural” e que sete crianças haviam falecido no Senegal na primeira imunização maciça. Quando a verdadeira vacina chegar às farmácias, esses grupos terão tido tempo de que suas mentiras e meias-verdades se cristalizem como receios e desconfiança em parte do público. “Estamos a tempo de fazer as coisas direito, mas agora é mais difícil do que numa situação normal, e isso me leva a pensar que veremos crescer os movimentos antivacinas. Assim que tivermos a vacina, haverá campanhas mais fortes e com mais repercussão”, diz Lobera. Esse sociólogo da Universidade Autônoma de Madri acaba de publicar um estudo que associa o sentimento antivacinas na Espanha à desconfiança em relação à medicina convencional.
A Organização Mundial da Saúde já considerava a rejeição à imunização como uma das principais ameaça sanitárias em 2019, quando o número de casos de sarampo triplicou em relação ao ano anterior. Agora, o problema poderia inclusive chegar a ameaçar a ansiada imunidade de grupo frente ao coronavírus, que, segundo as estimativas mais aceitas, é atingida quando cerca de 70% da população têm anticorpos. Segundo um estudo publicado na revista The Lancet, 26% dos franceses não tomariam a vacina se ela já estivesse disponível. No Reino Unido, 12% não se vacinariam e mais de 18% tentariam que familiares ou amigos não se imunizassem, segundo um trabalho da Universidade de Cambridge. Uma quarta parte da população norte-americana tampouco tem interesse em se vacinar contra a covid-19, segundo a Reuters, uma rejeição que alcança 34% entre os eleitores republicanos, segundo o levantamento do Instituto Pew. Apenas 40% dos norte-americanos menores de 60 anos estão convencidos de que se vacinariam, segundo a AP.
Nem todos esses milhões de cidadãos relutantes se encaixam na etiqueta de antivacinas. Há um círculo reduzido de ativistas militantes que vivem isso como um credo; um maior de famílias que têm receios; e finalmente há o público general, que pode chegar a desconfiar, à luz dos acontecimentos e de suas circunstâncias pessoais.
As autoridades devem ser muito transparentes e sinceras mostrando toda a informação disponível sobre o processo de desenvolvimento das vacinas, reconhecendo que há pressa, erros e interesses comerciais, diz Lobera. Sobretudo deixando claro que tudo isso será controlado para obter um produto final excelente. E será ainda melhor se for possível permitir que a população escolha entre diversos tipos de vacinas. Porque estes receios que já eram observados costumam crescer ao calor das desconfianças contra os interesses de laboratórios farmacêuticos e Governos. Como explicava a ensaísta Eula Biss em seu livro Imunidade, grande parte da desconfiança em relação ao produto final, a vacina, na verdade se centra no que acreditam que os fabricantes seriam capazes de fazer para ganhar dinheiro.
Estes receios também existem, embora em menor grau, na Espanha. Até agora sabíamos que mais de 6% dos espanhóis acreditam que os riscos das vacinas infantis superam seus benefícios, segundo um estudo da Fecyt realizado pelo próprio Lobera. Mas, com a chegada da pandemia, multiplicaram-se as crenças sobre conspirações, que são a porta que se abre para deixar outras ideias alternativas passarem. Segundo o Instituto Reuters, ligado à Universidade de Oxford, 29% dos espanhóis acreditavam no começo de abril que o vírus foi criado em laboratório, e 12% consideravam que as companhias farmacêuticas estavam especulando com uma vacina que já estaria desenvolvida (e 21% não tinham certeza sobre isso), segundo um trabalho de María Victoria-Mas, da Universidade Internacional da Catalunha. Estas conspirações estão inundando conversas nas redes sociais e Whatsapps, fora do radar. Na Itália, no sábado passado, houve uma manifestação dos “coletes laranjas”, um coletivo segundo o qual o vírus não existe, as vacinas são nocivas e a culpa da pandemia é do 5G e de Bill Gates. Um estudo recém-publicado mostra que existe uma relação direta e robusta entre acreditar em conspirações e se negar a receber uma vacina contra a Covid.
“Com muita frequência, os responsáveis por proteger o público não parecem entender como a informação se movimenta na era da Internet”, lamentava recentemente Renée DiResta, pesquisadora de Stanford que foi das primeiras a alertarem para as armadilhas dos antivacinas nas redes. As crises sanitárias são ideais para impulsionar sua pauta. Durante os surtos de sarampo que atingiram diversos pontos dos EUA no ano passado, os grupos contrários à imunização foram os que mostraram um maior crescimento em redes como o Facebook, como adverte um estudo publicado na semana passada na Nature. “É quase como se tivessem estado esperando por isto. Cristaliza tudo o que vinham dizendo”, escreveu Neil Johnson, autor do estudo, sobre como os ativistas antivacinas estavam aproveitando esta circunstância.
“As reclamações contra as vacinas em Internet não são estáticas. Respondem às notícias que vão mudando e ao desenvolvimento de novas técnicas retóricas”, afirma Jonathan Berman em seu recente livro Anti-vaxxers (“antivacinas”, MIT Press). A análise dos sites que se opõem às vacinas mostra uma evolução relevante nos temas que centram seus argumentos: caem as menções às vacinas como causadoras de outras doenças e a promoção de remédios alternativos, e sobem as teorias conspiratórias. Enquanto os defensores das vacinas continuam brigando contra o falso vínculo com o autismo, os antivacinas vão discretamente abandonando essa trincheira para se centrarem em narrativas sobre a liberdade de escolha,como explica DiResta.
“Surpreendentemente, apesar de as táticas dos sites contra a vacinação se adaptarem com o tempo, as mensagens gerais que são difundidas recaem nas mesmas categorias básicas que usavam na década de 1850. O tema da liberdade pessoal, os temores com a contaminação do corpo e a desconfiança em relação ao Governo e aos cientistas ainda são utilizados, mais de um século e meio depois”, observa Berman em seu livro. Na última década, assistimos a uma erosão constante da confiança na ciência e nos especialistas, e mais ainda nos últimos meses, o que pode servir de combustível para atacar uma futura campanha de vacinação.
“Há um tronco comum entre o pensamento antivacina e algumas posições políticas extremas, associado à ideia de que as elites não cuidam de nós”, afirma Lobera sobre o risco agregado de polarizar politicamente as campanhas de imunização. Na França, os eleitores da esquerda de Mélenchon e da direita de Marine Le Pen são os mais reticentes a se vacinarem contra o coronavírus. Isto pode propiciar maior mobilização contra essa vacina em paralelo com a ideologia, como acontece em países como a Polônia e a Itália.
As autoridades sanitárias já estão preocupadas com o desenrolar dos acontecimentos: um artigo publicado na revista da Associação Médica Norte-Americana alerta que as narrativas que mais circulam estão questionando a segurança de uma futura vacina, criticando como “tirânica” a imunização obrigatória e promovendo teorias conspiratórias, como a de que essa vacina servirá de pretexto para injetar um microchip que vigie a população. Algumas podem parecer ideias ridículas, mas esses médicos pedem a ativação imediata de campanhas de saúde pública para rebater e prevenir a propagação de ideias marginais, “antes que mitos perigosos se arraiguem na psique pública”.
“Não é uma história fechada”, avisa Lobera. E acrescenta: “O que acontecer com esta pandemia dependerá de como as cartadas médicas, políticas e de comunicação forem jogadas. Porque há muitos aspectos sensíveis, e é preciso jogar bem com os aspectos comunicativos”.
DESMONTAR BOATOS FUNCIONA
O pesquisador Timothy Caulfield acaba de publicar um estudo no qual explica que é possível confrontar boatos infundados, como os espalhados por coletivos antivacina. Ele mesmo o resume neste decálogo: 1- Proporcione a informação científica (sim, funciona). 2- Use conteúdos claros e que possam ser compartilhados. 3- Cite fontes independentes e confiáveis. 4- Se existir, ressalte que há consenso científico (e que a ciência evolui). 5- Seja amável, natural e humilde. 6- Crie uma narrativa (a criatividade ganha). 7- Chame a atenção para as falácias. 8- Titule com os fatos (não com a desinformação). 9- Recorde que sua audiência é o público geral (não o negacionista radical).
Fonte: El País