Ex-presidente Lula, Ciro Gomes, Sérgio Moro, João Doria, Eduardo Leite e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução | PR | CNI | Secom | Reuters)

“Vamos colocar nossa energia no candidato de nossas esperanças, conscientes que, mais do que nunca, só sairemos desse impasse em que nos encontramos, elegendo um Congresso comprometido com um projeto político que favoreça a Nação brasileira”, escreve a colunista Hildegard Angel

Era o segundo governo de Lula. Num almoço de mulheres no Fasano, a dona de uma rede nacional de shopping centers dizia que eles nunca haviam vendido tanto quanto naqueles anos. O governo era criticado pelos seus opositores por favorecer os bancos, e os banqueiros pareciam amar Lula, com quem confraternizavam onde estivessem. A indústria brasileira tinha seu representante na vice-presidência, José Alencar Gomes da Silva, e as federações patronais também pareciam contentes.

Lula não perseguia a mídia, seu governo anunciava, privilegiando os grandes grupos de imprensa, não havia retaliações aos divergentes, como hoje vemos acontecer. Nos governos de Dilma, sequer foi encaminhado ao Congresso o projeto de regulação da mídia, formatado por Franklin Martins ao fim do segundo mandato de Lula, condizente com o que é feito nos países do mundo todo.

Lula é um conciliador por natureza. É considerado pelos chefes de estado do resto do mundo, é admirado, visto como um igual. Semana passada, em Bruxelas, ele mereceu aplausos de pé, longos e sucessivos, no encontro do Parlamento Europeu com lideranças latino americanas. Mereceu recepção de chefe de estado no Elysée, com a marcha da guarda do palácio e o presidente Macron descendo os degraus para ir buscá-lo (e uma hora depois levá-lo) no carro. É bem visto pela mídia internacional, inclusive pelas publicações de economia. Por que esse ódio da mídia corporativa brasileira contra ele? Esse apagamento? Esse silêncio a seu respeito? Por que estavam sendo destinados a ele apenas breves momentos, em canais por assinatura, às altas horas da noite, e quando isso acontecia? E isso só foi revertido no sétimo dia da agenda da viagem de Lula, depois da grande grita nas redes sociais, da indignação, e da chacota feita, comparando a vasta cobertura da visita pelos jornais estrangeiros e a cobertura Zero pela mídia brasileira.

Atribuem a Lula um radicalismo que ele, na prática, nunca demonstrou. Lula não é um radical. Não é comunista. É um liberal, falando francamente. Alguns o identificam como Liberal Periférico. Sua política externa é afinada com as dos demais países. Respeitado por todos. Até George W. Bush gostava dele! Em poucos dias na Europa, foi recebido pelo vencedor das eleições na Alemanha, Olaf Scholz, esteve com o líder da Social Democracia, Martin Schulz, foi aclamado no Parlamento Europeu, elogiado por Zapatero como “o que mais combateu a pobreza”, trocou ideias com o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, foi recepcionado com batucada brasileira pelos alunos do Instituto SciencesPo, em Paris, onde almoçou com a Prefeita. Depois da França, participa hoje de seminário de Cooperação multilateral e recuperação pós-covid, em Madri, e tem agenda com o primeiro-ministro.

Lula não sai procurando briga, não dá banana e joga a casca no chão, não desanca o país dos outros, negocia com todos. Internamente, é bom para o nosso povo, se compadece do pobre. Não politiza temas sérios, como Saúde, Cultura e Educação. Desenvolveu políticas sociais mínimas, sem “exagero”, podia ser muito mais – o Bolsa-Família, como diriam os americanos, eram “peanuts” em nosso orçamento. E mesmo assim suas políticas públicas trouxeram notáveis benefícios sociais e econômicos, foram copiadas em vários países, se tornaram referência.

O saldo de seu Minha Casa Minha Vida foram casas para milhões de brasileiros, e novas grandes fortunas para poucos, como Rubens Menin, dono da MRV Engenharia, proprietário da CNN Brasil, o também mineiro Ricardo Gontijo, dono da Direcional Engenharia, os donos da Construtora Tenda, mineira também, os da Rossi Residencial, alguns desses empresários declarados admiradores de Bolsonaro.

As ditas pautas identitárias, responsabilizadas por parte da rejeição ao PT, foram muito mais de Dilma do que de Lula. Assim como foi o relatório da Comissão da Verdade, que tanto enraiveceu os militares de pijama do Clube Militar.

Lula jamais perseguiu os diferentes, nem exigiu fidelidade ideológica aos que prestam serviços ou vendem serviços ao governo. Muito menos àqueles que recorrem aos financiamentos e inventivos de bancos públicos.

247