“Inertes, o Brasil e o Rio assistem ao desmonte deste importante setor estratégico. Calam-se todos em favor do liberalismo apátrida – que produz desemprego e miséria entre os brasileiros”, escreve Ricardo Bruno

O liberalismo apátrida da direção da Petrobras, somado a ausência de políticas públicas destinadas ao fomento do setor, produzirá nos próximos meses 80 mil empregos em Singapura, na Ásia, e desemprego no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro.

A Petrobras deu início a licitação de duas mastodônticas plataformas (P 78 e P 79) para o campo de Búzios, no litoral do estado do Rio. Mesmo com o desemprego em alta no país, são remotíssimas as chances de as encomendas ficarem no Brasil, muito menos no Rio de Janeiro, onde os estaleiros estão praticamente vazios.

Ao contrário de anos atrás, quando havia mobilização política em favor do conteúdo local para a garantia de empregos no Brasil e no Rio, não se vê qualquer movimento para assegurar a construção das plataformas no país, o que geraria por baixo 8 mil empregos diretos e 80 mil indiretos. O absoluto desdém com a indústria naval brasileira contrasta com o desemprego galopante que bate à porta de 14 milhões brasileiros.

– Eu tive uma conversa com o presidente da Petrobrás. Ele foi claro: vou comprar onde tiver de comprar com preço mais baixo – relata Sérgio Bacci, vice-presidente do Sindicato da Indústria Naval.

A gestão de Carlos Castelo Branco na Petrobras retirou da maior estatal brasileira o compromisso de políticas públicas em favor do desenvolvimento do País. A Petrobras não opera em favor do Brasil; tal qual uma empresa privada só enxerga seus próprios lucros, ainda que, para isto, produza mais desemprego.

Não se vê qualquer reação da Firjan, a Federação das Indústrias do Rio, em defesa da indústria naval. A ótica caolha do liberalismo obtuso em desfavor dos interesses nacionais passou a prevalecer de modo geral. Não há grita, não há reação. A visão liberal de Paulo Guedes capturou o Brasil, neutralizando qualquer revide ao desmonte de um setor estratégico para o país dono de um gigantesco volume de reservas na pré-sal. Nem mesmo a bancada federal fluminense se mobiliza em torno da questão, rendida, em sua maioria, pelo liberalismo inexorável de Paulo Guedes.

– É o liberalismo puro e simples e ponto final. Não há mais compromisso com o desenvolvimento nacional – protesta Sérgio Bacci.

O estaleiro Keepfells, em Angra dos Reis, estaria apto a fabricar tais plataformas. Também o Isibras, no Rio, teria espaço e capacidade técnica para obras dessa envergadura. Mas infelizmente não devem ser objeto das contratatações.

Antes portentosa, a indústria naval fluminense vive de reparos, sem grandes encomendas. Se antes, em 2014, teve 30 mil trabalhadores, com 120 mil empregos indiretos no estado, hoje tem apenas 9 mil. No País, a queda em números de postos de trabalho no setor foi de 82 mil para 30 mil.

Para se ter ideia do tamanho da tragédia da indústria naval fluminense, o Keepfells, de Angra dos Reis, antigo Verolme, já empregou 7 mil trabalhadores e hoje tem apenas 1,5 mil.

O Brasil não consegue produzir com o mesmo preço da Ásia pelo simples fato de a indústria naval nacional funcionar aos soluços, sem regularidade nas encomendas, o que reduziria os custos de produção. Sem falar no impacto do Custo Brasil, decorrente da instabilidade política reinante no País.

A visão liberal, pura e simples, caminha para aniquilar totalmente esse importante setor da economia nacional. Recentemente a Câmara dos Deputados, cumprindo cegamente a pauta liberal, aprovou projeto autorizando a importação de navios cabotagem sem qualquer imposto. O projeto ainda será votado no Senado.

– Este foi o primeiro passo. Abriram a porteira. Daqui a pouco vão estender aos equipamentos da indústria naval – prevê com pessimismo Sérgio Bacci.

Inertes, o Brasil e o Rio assistem ao desmonte deste importante setor estratégico. Calam-se todos em favor do liberalismo apátrida – que produz desemprego e miséria entre os brasileiros.

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